É noite do dia 7 de março, véspera do intitulado Dia Internacional da Mulher. Estou sentada aqui para escrever sobre isso, sobre uma data marcada no calendário como comemorativa. Enquanto feminista, comunicadora e criadora de um projeto que busca valorizar a cultura feita por mulheres e empoderar outras mais, eu preciso falar sobre isso. Preciso falar sobre isso porque acredito que posso mudar o mundo, seja o mundo de uma pessoa, ou de 7 bilhões.
Quero fazer um texto simpático, porque o mundo por si só é carrancudo demais, mas sigo reescrevendo as frases que bato no teclado. Não soam leves. Escrevo e não posso me esquecer das condições históricas que levaram esse dia a ser uma data em homenagem à mulher: no fim do século XIX, início do XX, as mulheres viviam em péssimas condições de vida e trabalho, sem direito ao voto. Por muitos motivos e reviravoltas históricas que não cabem aqui, ficou decidido que o dia 8 deste mês seria especial: uma data para lembrarmos as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres.
Infelizmente, porque a história segue em contínuo esquecimento, por muito tempo o Dia das Mulheres era apenas um dia comemorativo. Sim, tinha flores, bombons e bilhetes de “parabéns, mulher”. Mães, avós, funcionárias, esposas… ser mulher neste dia significava ganhar os parabéns por desempenhar suas funções como uma Mulher Maravilha. As pessoas, em geral, não refletiam sobre o que esse dia realmente representava e as marcas usavam do pior do marketing para vender tudo o que acreditavam estar no universo feminino, como maquiagens, eletrodomésticos, sapatos. Esse dia, no entanto, renasceu. Assim como as lutas pela igualdade de gênero ganharam novo fôlego, as mulheres também tomaram de volta esse dia 8, que é, antes de tudo, um dia de luta, um dia de história. E se você me acompanha aqui, tenho certeza que também sabe que hoje não é um dia de parabéns.
Ao escrever esse texto, não pude deixar de apresentar dados, números que mostram que ainda temos muito pelo que lutar. Mas, bem… você deve conhecer os números tanto quanto eu. Queria um texto simpático, então eu não posso despejar em você as estatísticas da violência contra a mulher no Brasil, que seguem imensas; nem os números que demonstram a desigualdade salarial, exorbitante; nem a lista de países em que as mulheres ainda não podem votar, porque isso ainda existe. Deixo essas informações para a grande mídia, e convido você a mandar todos esses dados a cada pessoa que te desejar um feliz dia das mulheres hoje.
Mas, você deve estar se perguntando: você não disse ali no título que quer que desejem isso pra você? Pois é o que eu mais quero! Eu realmente quero que as pessoas me dêem parabéns hoje, porque eu sou mulher – e quero que todas as mulheres ouçam isso, verdadeiramente, de alguém. Verdadeiramente eu digo, porque é preciso entender o que o Dia das Mulheres significa. Quando alguém nos dá parabéns neste dia, tem que entender que esse parabéns é por ela sobreviver em um mundo de estatísticas terríveis para as mulheres. É um parabéns por conseguir sobreviver, dia após dia, em uma cultura que acolhe o estupro, o feminicídio. É um parabéns lutar plenamente pela vida em um mundo dominado por homens, em que muitos deles ainda nem entenderam como a estrutura da sociedade em que vivemos é injusta com o sexo oposto – e com todos aqueles que não se identificam como homens também.
Por isso, e muito mais, eu quero os parabéns sim. Porque, apesar de tudo, eu consigo caminhar pelo mundo, sobreviver a ele, ao trabalho, aos relacionamentos abusivos, ao caminhar na rua, à violência que bate à porta. Eu quero os parabéns e quero que todas as mulheres sejam parabenizadas, porque nós temos que lidar com o mundo, com a pressão estética, com a maternidade, com a autocobrança. E acho válido esses vários parabéns sim, porque ao ser mulher, mesmo quando falhamos com o que consideramos ser nosso papel, nós vencemos. Quando falhamos em ser Mulher-Maravilha, vencemos com nosso autoconhecimento, nossa autoaceitação, nossa caminhada rumo à própria paz.
O parabéns que eu quero receber honra minha história, minha vivência até aqui, independentemente das situações pelas quais passei e ainda vou passar – porque a gente passa por uma porção de coisas nessa vida. E passamos por tudo sozinhas, antes de tudo, ainda que já estejamos aprendendo a passar por tudo isso umas com as outras também, e umas pelas outras. E você, mulher, também dê os parabéns para todas as mulheres que encontrar pelo caminho nesse dia, porque as histórias delas são gigantes. Por todas as situações pelas quais elas passaram e você entende, e também pelas situações pelas quais você nunca vai imaginar que elas sobreviveram, elas merecem os parabéns.
E, mana, se dizer parabéns ainda soa muito superficial pra você, faça o seguinte: olhe bem fundo nos olhos dessa mulher e quando você conseguir se conectar, sentir nesse contato a sororidade nua e crua, diga: “você é foda”! Faça pessoalmente, ou por um áudio no WhatsApp, ou encaminhe esse texto, ou um sinal de fumaça. Qualquer coisa vale. VOCÊ É FODA. Porque nós somos, todas nós.
Chegamos a mais um 8 de março e nós, ainda que não tenhamos alcançado tudo o que queremos – e não vamos parar até conseguir – não estamos retrocedendo na caminhada. Vamos juntas e vamos sempre em frente!
Adorei o nome do blog.
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Parabéns para Você!
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Obrigada, Claudia! ❤
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Minha avó trabalhou numa grande empresa que todos os anos, no dias das mulheres, as presenteava com lindos buquês de rosas. Mas essas mesmas mulheres eram obrigadas a andar sempre muito bem vestidas, de acordo com as regras da empresa, sempre de saia e salto, nunca usar calças, pois eram o “cartão de visitas” da empresa, eram mero capital estético. Sim, aceitamos os parabéns, mas queremos muito mais.
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Com certeza! Aceitamos parabéns, flores, respeito, direitos iguais! E assim seguimos juntas ❤ Feliz dia, mana!
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Você é foda 😀
Parabéns, excelente artigo!
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Muito obrigada pelo apoio! Você é foda! ❤
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Texto incríveeeeel! Parabéns! 😀
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Muuuuuito obrigada, mana! Você é foda ❤
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Ninguém me deu os parabéns, nem recebi nenhuma flor neste dia. Antes me inquietava com isso por interpretar esse fato como uma indiferença. Hoje vejo tudo isso com mais realismo e perseverança também pelo que é preciso mudar – as marchas das mulheres comprometidas com um mundo mais justo em todos os aspectos me emocionam mais. Gostei do seu texto pela sinceridade que ele exprime. Abraço da Mariluz.
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Querida, desejo que todos os seus dias sejam dias felizes, dias de parabéns pela luta, pela história. Você é foda! Estamos juntas.
Minha gratidão pelo apoio ao meu projeto! Um beijo,
Michelle
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Obrigada Michelle pelo incentivo e muita sorte pra você. Abraço da Mariluz
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